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Sala de Leitura

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Como pensar sobre Deus

Há muitos e muitos anos, quando estava levantando sustento, apresentei meu ministério à igreja de um amigo de seminário. Nós até cantávamos no coral juntos. Ele foi o melhor tenor com o qual tive o privilégio de cantar. Agora, em um novo ministério como pastor de música, ele e sua igreja estavam em pleno processo de transformação. Ele me contou sobre um show gospel que os líderes de sua igreja assistiram. No início ficaram ofendidos com a música, mas no final o cantor colocou a guitarra de lado e começou a pregar. Meu amigo e os outros pastores pensaram que, já que o tal astro pregava mensagens fortes, não haveria problema levar os jovens a ouvirem as músicas dele. Continuando, meu amigo me contou algumas práticas que estavam instituindo e, por acaso, mencionou que às vezes eles batem palmas a Jesus. — A gente aplaude tanta coisa, por que não Jesus? Não soube lhe responder, mas ao analisar a pergunta biblicamente, não vi motivos para respondê-lo negativamente. Mesmo assim, senti um ligeiro incômodo com a ideia. Tanto, que nunca fiz isso na minha igreja. Recentemente, por ocasião do Natal, minha esposa e eu estávamos ouvindo o CD Messias, de George Frederick Handel. Trata-se de um oratório bem conhecido e contém o famosíssimo “Coro Aleluia”. Já cantei este coro diversas vezes e é costume ficar em pé quando o coral começa a cantar. Este costume remonta para os tempos da estreia. Quando o rei da Inglaterra ouviu o coro pela primeira vez, ele se colocou de pé. Uma vez que ele estava de pé, a plateia toda também ficou de pé em homenagem ao “Rei dos Reis (Aleluia! Aleluia!) e Senhor dos Senhores (Aleluia! Aleluia!)”. O coro continua “E ele reinará para sempre e para sempre”. Que sublime gesto por parte do soberano da Inglaterra ao reconhecer o Soberano da terra e céus! O “Coro Aleluia” é minha segunda parte predileta do Messias. A parte que mais amo é o coral no fim “Digno É o Cordeiro”. A letra é o texto dos dois grandes hinos de Apocalipse 5:12-14. E quando termina, o coro logo entra em um grande e retumbante “Amém”. Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor. Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos. Glorioso! Majestoso! O tipo de experiência que faz um amante de Deus tremer todinho por dentro. Querer lançar-se aos pés do Cordeiro. Todas as outras tentativas que já ouvi para transformar este hino em cântico são pífias e risíveis. Parecem música escrita para algum desenho da Disney. Não provocam a mesma reação. Não levam o filho de Deus a querer se atirar aos pés de Jesus. Há muito tempo tenho uma pergunta que não quer calar: Se o rei da Inglaterra se levantou quando cantaram o “Aleluia”, como ele conseguiu ficar sentadinho quando cantaram “Digno É o Cordeiro”? Este ano, ao ouvir novamente O Messias, surgiu outra pergunta: uma vez que o rei se levantou quando cantaram o “Aleluia”, o que ele deveria ter feito quando cantaram “Digno É o Cordeiro”? E, se eu fosse começar uma nova tradição, que tradição eu instituiria? Ficar novamente em pé? Não. Muito repetitivo e arrogante. Aplaudir? Não! Não! E Não! O só sugerir me enche de nojo misturado com horror. Imagine! Que tal todo mundo se colocar de joelho e curvar a cabeça em adoração? Ou, melhor ainda, cair estendido no chão? É isso! Se um dia o coral da minha igreja cantar “Digno É o Cordeiro”, de Handel, vou pedir que todos se ajoelhem perante o Cordeiro. Aí lembrei do meu amigo que instituiu aplausos a Jesus na sua igreja e pensei: — É isto que está errado com as nossas igrejas: em vez de cair rosto em chão diante do Cordeiro, o aplaudimos como se acabasse de receber um Oscar. Mark A. Swedberg

 

 

A Morte é o ponto de partida

O que seria a vida sem o seu final? O que aconteceria; se, de repente, os homens parassem de morrer? O que significa não morrer? [Em seu livro Intermitências da morte, Companhia das Letras, José Saramago, autor português, falecido no ano passado, questiona estruturas da religião e da filosofia a partir do significado que ambas atribuem ao fim da vida; e, afirma que a morte é o ponto de partida.] No dia seguinte ninguém morreu. De repente não se morre mais. Aquilo que a princípio seria motivo de grande felicidade, provocaria as maiores tribulações e desarranjos; a ponto de muitos desejarem o retorno da morte ao ciclo da vida, pois com a ausência da morte a vida se torna funesta. Com o fim da morte, toda a vida precisa ser repensada, pois, a visão de mundo, além de aspectos socioeconômicos, está baseada na morte: hospitais, seguradoras, funerárias, aposentadoria, renovação, etc. No aspecto religioso, quais seriam as propostas (novas propostas) das religiões, das filosofias? Como encarar a vida, o erro, a justiça, a eternidade, sem a morte? Quantos apelos ao juízo divino ou místico sobreviveriam à nova realidade de se viver eternamente aqui, sem uma continuação após a morte com purgatórios, céus, infernos, lagos de fogo, paraísos, belas e muitas virgens, reencarnações? Será que encontraríamos uma resposta, um caminho já existente que privilegiasse a vida ao invés da morte? Que estabelecesse toda sua estrutura moral, espiritual e social sobre uma proposta de se viver, independentemente da morte, e de se viver abundantemente? Na conclusão de Saramago, tanto a religião quanto a filosofia perderiam sua razão de existir; pois, acredita que ambas existem para que as pessoas levem toda a vida com o medo pendurado ao pescoço e, chegada sua hora, acolham a morte como uma libertação. No entanto, na conclusão de Cristo, a morte não atrapalha a vida, pois ele veio trazer vida abundante (João 10.10). Sua proposta diz respeito à vida, e não somente a que está por vir, mas a começar por esta que experimentamos. A morte em si não é o ápice de sua mensagem, nem no que diz respeito a ele nem no que diz respeito a toda humanidade; pois, a vitória sobre a morte é o tema bombástico de seu ministério, e no que diz respeito a nós a vida é a razão de seu sacrifício. A morte já não mais atrapalha, pois foi vencida. Gosto da forma como John Owen enxergou este dilema: A morte da morte na morte de Cristo. A morte morreu na morte daquele que é vida! Tanta vida que nem a morte conseguiu detê-lo. A morte, ao contrário, é fundamental para a vida. Não no sentido abstrato e absoluto da vida pós-morte, mas sim no sentido desta fase em que vivemos, pois para ter-se vida abundante é preciso fazer morrer a natureza morta que nos acompanha desde o berço. Cristo disse a Nicodemos: “Importa nascer novamente”. Claro! Afinal, se seguirmos o destino sinistro da humanidade caminhamos da vida para a morte (no sentido físico); mas, se seguirmos o destino divino para a humanidade caminhamos da morte (do eu) para a vida (de Deus). Morte para o que é comum e vida como um presente de Deus para um novo, curioso e desafiante presente e futuro: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados [...] nos deu vida juntamente com Cristo, pela graça sois salvos” (Efésios 2.1, 5). A morte, então, é o ponto de partida de uma verdadeira e abundante vida que não necessita da imortalidade para ser real. Quando nascemos fisicamente começamos a morrer. Mas quando morremos espiritualmente renascemos para um viver pleno antes e após a morte física.

 

 

Tendências religiosas em nossos dias

A nomenclatura em voga é Ciência da Religião. A preocupação principal se resume em dois pontos: O primeiro, qual seria a terminologia adequada - Ciência da religião, ciências da religião ou ciências das religiões? O que não é simplesmente uma questão de título, mas sim de delimitação do campo (prefiro Ciência da religiosidade). O segundo ponto é em não abrir espaço para a velha teologia confessional mascarada, ou maquiada como ciência. Isto porque ciência da religião é o estudo das hierofonias, ou seja, o sagrado em suas múltiplas manifestações. Este sagrado é um elemento estrutural da consciência e não uma fase da história dessa consciência. Nos mais arcaicos níveis de cultura, viver como ser humano é em si um ato religioso, pois a alimentação, a vida sexual e o trabalho têm um valor sacramental. Por outras palavras: ser - ou, antes, tornar-se - um homem significa ser ‘religioso’” (ELIADE, M. Tratado de História das Religiões. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 7) . O Brasil, pela peculiaridade de suas crenças, de seu universo mítico-religioso, é um celeiro para estudiosos que querem se dedicar a pesquisas do fenômeno religioso. Todas as escolas que hoje oferecem Ciência da Religião como disciplina, seguiram a trajetória que teve como ponto de partida um departamento de clérigos (mesmo em universidade pública) e uniconfessional, para, em seguida, passar por um processo de desclericalização e descatolização ou desprotestização; alcançando atualmente a fase da desmasculinização. Todo este processo revela que vivemos não só um tempo de mudança, mas de mudança de tempo. E este tempo é fortemente marcado pelo pluralismo religioso. O que indica a volta do sagrado, porém numa nova roupagem, mais livre, solta, móvel, sem residência fixa [em sua visão], na realidade sem referencial [em minha visão]. Para muitos, a teologia acorda de seu sono dogmático, deitada há séculos, para se deixar ser interpelada pelo surto do sagrado, sendo obrigada a repensar sua linguagem para falar a um mundo plural. Assim, a teologia necessita renovar-se frente ao novo paradigma do pluralismo religioso. Devendo se enveredar pelo caminho da hermenêutica da vida humana, isto é, uma teologia do sentido ou do significado. Fazendo do teólogo um mero caçador de sentido. Ciência da religião, diferentemente da teologia, não se debruça sobre o dado revelado, mas sobre o fenômeno religioso. Não traz uma abordagem confessional do fenômeno, mas uma abordagem fenomenológica. Para os novos orientadores religiosos, passamos do diálogo das culturas para o diálogo das religiões. Isso implica em abandonar um paradigma exclusivista para adotar um novo paradigma pluralista, isto é, deixar de ser Igreja detentora da verdade para encontrar-se com as diversas religiões, enriquecendo-se com as mais diferentes formas de expressão do sagrado. Esta linha de compreensão, e imposição, sobre o ensino religioso revela a essência da religiosidade de nosso tempo: alvo e método; aonde se quer chegar e como chegar. Simplificando, vivemos imprensados por uma disposição em aniquilar com a verdade, abrindo espaço para as verdades, mesmo que incoerentes. O inimigo comum não é a(s) inverdade(s), mas sim a verdade única, absoluta, asfixiadora dos prismas particulares, das diversas intenções acadêmicas, políticas, econômicas e espirituais. Tudo isso forma uma atmosfera facilitadora para novas tendências; que, em muito, são velhas tendências em novas roupagens; agora, mais corajosa em se expor, devido à atmosfera atual, como o Teísmo aberto: a ideologia mais coerente da escola mais incoerente da teologia – o arminianismo; que tenta, assim, construir coerência para a incoerência. Todas as tendências tornam-se possíveis pelo fato do foco estar não no âmago do conhecimento crido, ensinado e defendido; mas sim na possibilidade de se crer em qualquer coisa, por mais absurda que seja. A beleza a ser entendida e conservada que, segundo eles, é suficiente para a manutenção da crença está no religioso; no produto final da crença naquele que a exerce. Assim, não importa a religião; ou mesmo o conteúdo desta (sua teologia); mas a liberdade do exercício em se crer. Isso revela a cicatriz que a Igreja deixou nas sociedades no decorrer de sua história pré-moderna. Há um pavor de religião institucionalizada, mas uma paixão sobre a religiosidade individual. Seria uma forma distorcida de se aplicar o verso: “Tudo é possível ao que crê” (Marcos 9.23b). Ódio, medo, aversão, são alguns dos sentimentos mais comuns entre os estudiosos para com a Igreja, como maior representante histórica da religião institucionalizada. É importantíssimo que os teólogos cristãos de nossos dias conheçam a história, assim como seus resultados, incluindo a época em que vivemos, para, então, serem corretos em seu proceder no educar a igreja, no formar novos líderes, e no defender a fé.

Wagner Amaral

 

 

Deus é bom

Os puritanos foram um partido de protestantes ingleses e norte-americanos que viveram entre 1550 e 1700. Eles achavam as reformas religiosas da Rainha Elizabeth I inadequadas e incompletas. Queriam que fossem mais longe. Hoje os puritanos são conhecidos pela sua rigidez moral e fanatismo religioso. Veja como o dicionário Michaelis define “puritanismo”: “1 Seita protestante que prega e pratica princípios morais puros e rígidos e formas simples de adoração. 2 Austeridade de princípios. 3 Qualidade da pessoa que alardeia grande rigidez de princípios.” Outra pessoa definiu o Puritanismo como o medo que alguém em algum lugar está se divertindo. Em outras palavras, “puritano” hoje significa “estraga-prazeres”. Mas isto é um profundo engano. Longe de serem estraga-prazeres, os Puritanos eram caça-prazeres. A questão crucial é: o que traz real prazer? Muitas vezes somos como uma criança pobre que prefere se divertir soltando uma pipa quando lhe foi oferecido umas férias na Europa. Os Puritanos entendiam que as diversões e os apetrechos deste mundo não oferecem o prazer de uma comunhão íntima e intensa com Deus. Estive refletindo sobre uma frase absolutamente verdadeira, mas grandemente abusada em nossas igrejas hoje: “Deus é bom”. Deus é bom. Só precisamos meditar um pouco sobre os primeiros dois capítulos de Gênesis para entender isto. Sete vezes no capítulo 1 Deus diz da Sua criação, que era bom. Se perguntarmos: bom para quem? A resposta seria: bom para o homem. No versículo 27, Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança. Isso significa que o homem foi feito para ter comunhão com Deus. No versículo 28, Deus abençoou o homem com a habilidade de procriar e encher a terra. No sétimo dia, Deus descansou, não porque estava cansado, mas para poder desfrutar da Sua criação. No capítulo dois, Deus criou um jardim paradisíaco — um jardim que não tinha mato ou insetos ou temperaturas extremadass, mas só o que era bom. E fez tudo isso para o homem. A única coisa não boa que tinha ali era a solidão do homem: ele necessitava de uma companheira. Interessante é que o homem não percebeu esta falta. Só Deus viu e logo agiu para suprir a deficiência, criando, do homem, a mulher. Que presente maravilhoso! Que Deus bom! Existe alguém melhor do que o nosso Deus? E o que fez o homem? Desconfiou da bondade de Deus. Isso mesmo: depois de tantas evidências do contrário ele achou que Deus estava tentando prejudicá-lo. Deus havia proibido que o homem comesse o fruto de uma árvore em todo o jardim — uma só árvore — e o homem foi lá e comeu. Lamentavelmente, ainda somos assim. Cantamos em nossas igrejas que Deus é bom. Pregamos a mensagem: Deus é bom. Repetimos uns aos outros que Deus é bom. E Deus é bom. Mas o que significa isto? Que Deus não nos proíbe nada? Que Deus não está nem aí com nosso pecado? Que Deus não permite dificuldades e tribulações em nossa vida? Não. Significa que Deus quer o que é melhor para nós e Ele sabe o que é bom. Quando Ele nos proíbe de fazer certas coisas, é porque Ele é bom. Quando Ele nos disciplina e corrige, é porque Ele é bom. Quando Ele nos deixa passar pelo fogo da provação, é porque Ele é bom. E a prova da Sua bondade é a cruz: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” (Romanos 8:32). Dizemos que Deus é bom, mas escolhemos os prazeres deste mundo ao invés de Deus. Cantamos que Deus é bom, mas tentamos usá-lo para satisfazer a nossa carne. Temos plena convicção que Deus é bom, mas não sabemos nada sobre este Deus e mal conseguimos o ânimo para irmos à igreja, muito menos estudar a Bíblia e orar. Decide: Deus é bom, ou não é? Se Ele de fato for bom, busca a Ele e não às tuas diversões; ama a Ele e não ao mundo. Os puritanos não eram austeros; estavam certos. Eles entendiam que só Deus é bom e não permitiam que nada os distraísse de buscá-lo. “Vai e procede tu de igual modo” (Lucas 10:37).

Mark A. Swedberg   Mark A. Swedberg